DEFESA MESTRE INDÍGENA

18/06/2021 10:55

No dia 17 de junho nossa aluna Laklãnõ Xokleng Walderes Coctá Priprá defendeu seu Mestrado aqui em nosso Programa de Pós-Graduação em História, tendo sua dissertação sido aprovada sem alterações pela banca, composta pela Profa. Dra. Fabíola Andrea Silva da USP e a Profa. Dra. Luisa Tombini Wittman da UDESC, além da Profa.Dra. Evelyn Zea do Departamento de Antropologia da UFSC como suplente.

 Walderes é a primeira indígena a defender um mestrado em nosso programa, após termos aprovado as cotas para indígenas. É também uma das poucas Mestres Indígenas em História no Brasil. Em arqueologia, tema que ela aborda em sua dissertação, ela é a primeira indígena a defender um título no âmbito da pós-graduação. Ela já é uma referência para pensar uma história indígena de longa duração escrita por eles próprios.

 Esta conquista foi assistida ontem por uma sala cheia – contamos com mais de 63 pessoas online, sem contar que na terra indígena a defesa foi projetada nas casas e escolas para os parentes poderem participar, tendo sido feito um ritual para uma boa fala antes da defesa.

 Sua defesa ocorre em um momento político de extrema gravidade para as populações indígenas, já que é justamente nesta semana que estão sendo votados no STF o PL 490 que na prática inviabiliza a demarcação de terras indígenas, legitima o chamado “marco temporal” – ação inconstitucional que não reconhece o direito originário dos povos indígenas às suas terras tradicionais – e tem repercussão direta na demarcação da Terra Indígena Laklãnõ Xokleng, já que concomitante a votação deste PL, corre esta semana a votação no STF do Recurso Extraordinário (RE) 1.017.365, que discute a demarcação da Terra Indígena (TI) Ibirama-Laklãnõ, do povo Laklãnõ Xokleng aqui de Santa Catarina, determinado como tendo repercussão geral, que significa que o julgamento desse caso servirá de diretriz para os demais processos envolvendo demarcação de terras indígenas em todo o país.

 Apesar de não vinculado diretamente com as ações que correm no STF, pesquisas acadêmicas sobre o passado indígena de uma maneira geral, e Laklãnõ em específico, especialmente esta que trata dos lugares de memória, seu território tradicional antes do contato com os brancos, são passos importantes para mudarmos a narrativa histórica ainda tão arraigada  sobre as populações indígenas deste Brasil.