Nota de repúdio à homenagem feita a Natale Coral, assassino de indígenas (que “trazia a orelha dos índios na salmoura, só pro riso”)

08/02/2021 19:33

Nota de repúdio à homenagem feita a Natale Coral, assassino de indígenas

(que “trazia a orelha dos índios na salmoura, só pro riso”)

 

A equipe de coordenação do curso Licenciatura Intercultural Indígena do Sul da Mata Atlântica recebeu com indignação a notícia que na noite de 28 de dezembro de 2020, Nova Veneza, cidade sul catarinense, inaugurou uma praça em homenagem a seu fundador, Natale Coral.

Nascido na Itália em 1859 e falecido no Brasil em 1911, Natale Coral é figura reconhecida em Nova Veneza, por sua fundamental contribuição à formação da colônia.
De acordo com o Portal Veneza (portalveneza.com.br) a obra será completada com um memorial, duas rosas dos ventos e “Na parte superior, na posição vertical uma baliza topográfica em forma de flecha, representará o povo indígena que vivia nestas terras.”
Em um momento histórico no qual  pelo mundo todo vemos a remoção e o questionamento acerca de monumentos em homenagem a  ditos “heróis”, responsáveis por atos genocidas do passado, ao receber a notícia desta homenagem nos perguntamos: Por que? Para que? A homenagem a Natale Coral em praça pública nos parece um negacionismo histórico dos crimes cometidos pelo fundador, e nos provoca novamente o questionamento sobre o lugar dos ditos “heróis” na nossa sociedade atual. A referência genérica a um povo indígena colocado no passado é mais um indício da continuidade da disseminação de visões racistas. A flecha equivale a uma enevoada lembrança do passado da região? Indígenas? Qual povo indígena?

Trata-se daqueles que os imigrantes e seus descendentes denominaram pejorativamente como bugres. Trata-se, em realidade, dos Laklãnõ-Xokleng, povo caçador, pescador, coletor, que à época vivia em grupos num imenso território de ocupação abrangendo desde o Rio Grande do Sul ao Paraná. Sim, eram ocupantes que antecederam os imigrantes desbravadores do sul catarinense e que atualmente vivem no Alto Vale do Itajaí e norte do Estado, nas Terras Indígenas Laklãnõ e Rio dos Pardos. São um povo com história de longa duração.

E que associação há entre Natale Coral e indígenas que o município quer que sejam lembrados na praça em sua homenagem?

Relatos e registros enunciam que o homenageado era um dos “bugreiros”, caçadores de índios, figuras que protagonizaram horror e morte nos acampamentos Xokleng, entre fins do século XIX e início do século XX. Essa conduta bárbara não condiz com civilidade, com humanismo. Não condiz com homenagem póstuma. Praças, estátuas, bustos são formas de solidificar símbolos e assim dar continuidade a memórias, fortalecendo visões e narrativas históricas. Os fatos históricos não mudam, mas nós podemos mudar quem escolhemos como heróis para o nosso presente e para o nosso futuro.

Escreveu o professor historiador e antropólogo Silvio Coelho dos Santos, da UFSC, referência na Etnologia Indígena brasileira, sobretudo a partir de suas pesquisas junto aos Xokleng a partir da década de 1960, falecido em 2008: “No sul do Estado, Natal Coral, Maneco Ângelo e um tal Veríssimo, entre outros, tornaram-se famosos como líderes das ‘batidas’ e pela violência com que assaltavam os acampamentos dos índios” (SANTOS, 2007, p. 75). Relatou Ireno Pinheiro, famigerado “bugreiro” que atuou em outras regiões de SC, como Santa Rosa de Lima: “Besteira foi o que fez o Natal Coral. Quando voltava de uma batida, trazia a orelha dos índios na salmoura, só pro riso. Mas depois os colonos só queriam pagar com a prova das orelhas, e ele se aborreceu, parou até que os índios já estavam ficando cada vez mais raros” (SANTOS, 2007, p. 118).

Há ainda outros nomes de bugreiros, como Zé Domingo e Martinho Marcelino de Jesus (conhecido como Martin Bugreiro), este último lembrado e temido no Vale do Itajaí. Seus próprios relatos são aterrorizantes, inconcebíveis, inadmissíveis, a expressar verdadeiro genocídio.

Temos, portanto, uma nova praça em Nova Veneza que comemora um “bugreiro”. São estes símbolos, estas memórias que os cidadãos e turistas que chegam em Nova Veneza querem carregar para o seu futuro? Visões de genocídio, visões racistas? Temos um povo indígena que tenazmente sobrevive, lembrando o que os antepassados relataram sobre os bugreiros. E temos, a rigor, um novo tempo a solicitar reconhecimento da história e atiçamento da memória. A requerer indignação, revolta e austeridade frente aos fatos, à atrocidade. Qual patrimônio histórico queremos referenciar para o nosso futuro?

É tudo e nada. Tudo a aprender e se posicionar. Nada a se omitir e negligenciar.

Referência bibliográfica

SANTOS, S. C. dos. Ensaios oportunos. Florianópolis: Academia Catarinense de Letras,

2007.

 

Coordenação da Licenciatura Intercultural Indígena do Sul do Mata Atlântica

Universidade Federal de Santa Catarina

Manifestações de Apoio à Nota de Repúdio

  1. Departamento de História/UFSC
  2. Departamento de Antropologia/UFSC
  3. PPGA/UFSC
  4. Instituto Memória e Direitos Humanos (IMDH)/UFSC

 

fonte: https://licenciaturaindigena.ufsc.br/

Live Territorialidades Ameríndias no Alto Vale do Itajaí!

04/02/2021 20:45

Na sexta feira dia 19 de fevereiro, ás 14 horas, ira ocorrer uma roda de conversa do projeto Territorialidades Ameríndias no Alto Vale do Itajaí com Juliana Salles Machado, Lucas Bueno, Nivaldo Peroni, Patricia Hadler e Alejandra Matarrese! Além da roda de conversa haverá o lançamento do audiovisual do projeto!

O evento poderá ser acessado pelo meet google clicando aqui!

O audiovisual estará disponível no YouTube do laboratório (clique aqui)!

NOTA DE FALECIMENTO E HOMENAGEM À LUIS MARCELO BALVOA

04/11/2020 22:37

4 de novembro de 2020

 

NOTA DE FALECIMENTO E HOMENAGEM À LUIS MARCELO BALVOA

Com grande tristeza o LEIA/UFSC  comunica o falecimento no dia 3 de novembro de 2020 de um de nossos integrantes, Luis Marcelo Balvoa, que foi jornalista, aluno do curso de Antropologia desta Universidade e que desde 2019 desenvolvia seu doutorado em Arqueologia na Universidade de Buenos Aires, intitulada “Los Muertos que vós matais: arqueologia de las estratégias de exterminio de los indios ene el sur del brasil, una interfase entre la bioarqueologia y a antropologia forense”.

Marcelo foi um amigo querido por todos, um colega de trabalho presente, cheio de curiosidade e vontade de conhecer e refletir sobre o mundo. Dividiu muitas alegrias com muitos de nós e seu falecimento tão inesperado vai deixar saudade e a sensação de que poderíamos ter aprendido e feito tantas outras coisas juntos.

Marcelo foi também companheiro de vida de nossa amiga, também integrante de nosso laboratório, Luciane Scherer, com quem nos solidarizamos.

Seguimos aqui com os corações apertados, desejando força a família e guardando com carinho todos os momentos que pudemos compartilhar com o Marcelo.

HOMENAGEM por Alejandra Matarrese 

Ontem você partiu Marcelo, amigo querido e colega, você subiu ao último cume. Você foi um lutador incansável da vida, uma alma generosa disposta a oferecer uma mão amiga para aqueles que estivessem dispostos a aceitá-la.

Seus anos como jornalista fizeram com que as palavras nunca fugissem do seu lápis e sempre tivessem o valor do respeito.

Estudante e pesquisador curioso e comprometido, que levou suas perguntas de antropólogo ao Aconcágua, a montanha que te viu crescer, para voltar com reflexões e novas histórias para contar sobre o alpinismo contemporâneo.

E o seu espírito inquieto procurava novos desafios.

Você começou a percorrer um caminho que ajudará a tornar visíveis as injustiças que construíram parte da história dos povos indígenas catarinenses. Você nos deixou seu legado. Agora, cabe a nós que ficamos continuar a trilha iniciada.

Seus amigos e sua família ficam aqui celebrando a sua vida na memória dos momentos compartilhados, resgatando sua alegria e sua alma carinhosa.

Nós sempre sentiremos a sua falta.

***

Ayer partiste Marcelo, amigo querido y colega, ascendiste la última cumbre. Fuiste un incansable luchador de la vida, un alma generosa dispuesta a brindar la mano amiga a todos los que estuviesen dispuestos a tomarla.

Tus años de periodista hicieron que las palabras nunca huyeran de tu lápiz y que siempre tuvieran el valor del respeto.

Estudiante e investigador curioso y comprometido, que llevó sus preguntas de antropólogo hacia el Aconcagua, la montaña que te vio crecer, para volver con reflexiones y nuevas historias que contar acerca del alpinismo contemporáneo.

Y tu espíritu inquieto buscaba nuevos desafíos.

Comenzaste a transitar un camino que ayudara a visibilizar las injusticias que construyeron parte de la historia de los pueblos indígenas de Santa Catarina. Nos dejaste tu legado. Ahora nos toca a los que quedamos continuar la huella iniciada.

Tus amigos y tu familia nos quedamos celebrando tu vida en el recuerdo de los momentos compartidos, recuperando tu alegría y tu alma cálida.

Te extrañaremos siempre.

 

 

ÁLBUM DE MEMÓRIAS

 

Marcelo na prospecção arqueológica na região de Alfredo Wagner, 2016. Foto: LEIA/UFSC

Marcelo com equipe do LEIA na região de Alfredo Wagner, 2016. Foto: LEIA/UFSC

Marcelo na prospecção arqueológica do sítio Nova Bremem, Alto Vale do Itajaí, 2019. Foto: LEIA/UFSC

Marcelo na prospecção arqueológica do sítio Nova Bremem, Alto Vale do Itajaí, 2019. Foto: LEIA/UFSC

Marcelo com amigos do LEIA em comemoração. Foto Alejandra Matarresse.

Marcelo com amigos do LEIA em comemoração. Foto Alejandra Matarresse.

Curso de Extensão: Datação em arqueologia: como e por quê? (inscrições encerradas)

23/09/2020 19:54

24/09- 15:00hrs: Inscrições Encerradas – Devido a grande procura será pensada uma segunda turma, os inscritos serão comunicados.

Este curso de extensão vai abordar a questão da datação em arqueologia com um foco sobre a datação radiocarbônica, termoluminescência e Luminescência Oticamente Estimulada. O objetivo é fornecer conhecimento teórico e prático sobre este assunto para fornecer as ferramentas necessárias para interpretar e usar as datações em estudos arqueológicos.

A dinâmica de trabalho será: um encontro semanal de 2 horas durante 5 semanas (todos os sábados de manhã do mês de outubro 2020 de 10 a 12 horas) via a plataforma meet. Durante estes encontros 1 hora será usadas para apresentar a matéria disponíveis nos vídeos-cápsulas e 1 horas se aberta para responder as perguntas e dúvidas. Cada semana vídeo-cápsulas de 5 a 15 minutos serão a acessíveis (via um canal youtube) para os alunos reforçar a informação passada durante o encontro. Exercícios sobre formato de questionário (formulários google compartilhados) ou aplicação práticas que serão realizadas para cada aluno. O curso tem um extensão de 20 horas e certificados serão emetidos.

O curso será ministrado pelo Dr. Simon-Pierre Gilson (Pós-doutorado do PPGH/UFSC – Programa de Pós-graduação em Historia Universidade Federal de Santa Catarina.

link do formulário de inscrição: Link removido – Inscrições encerradas! Devido a grande procura do curso será pensada a aberta uma segunda turma, os inscritos serão comunicados.

Lançamento da Revista [Fag. Tar] a força delas

08/05/2020 18:31
       É com imensa alegria que compartilhamos o lançamento de nossa Revista [Fag.Tar] a força delas, com a participação de várias colaboradoras, mulheres indígenas inspiradoras e fortes que tem nos motivado tanto nesta caminhada.
         A revista é resultado do projeto de extensão coordenado pela Profa. Dra. Juliana Salles Machado, e construído colaborativamente com diversas mulheres indígenas de distintos povos e regiões, e o primeiro passo para o Museu Digital de História Indígena, do qual a revista faz e cujo conteúdo começa a ser disponibilizado online.

Acesse aqui: https://fagtar.org

Ajude a Frente Indígena de Prevenção e Combate ao COVID-19!

03/04/2020 18:30

Bom dia colegas,

Escrevo para reforçar o pedido de divulgação, apoio e colaboração com a campanha da Frente Indígena e Indigenista de Prevenção e Combate do Coronavírus em Terras Indígenas da Região Sul do Brasil, que conta com a participação e organização de Joziléia Daniza Kaingang, doutoranda do PPGAS-UFSC e coordenadora pedagógica do curso Licenciatura Intercultural Indígena do Sul da Mata Atlântica, da UFSC, e dos egressos Eunice Antunes (Kerexu Yxapypy) e Davi Timóteo Martins (Werá), também mestrando no PPGAS-UFSC. A Frente divulgou documento dia 30 de março, no qual são explicitadas razões da necessidade e da importância de doações aos povos indígenas da região Sul do Brasil.

É crescente a preocupação referente à situação de especial vulnerabilidade dos Povos Indígenas Guarani, Kaingang e Laklãnõ/Xokleng da região sul do Brasil neste momento em que a pandemia do Coronavírus está se aproximando cada vez mais das aldeias indígenas.

Por que os povos indígenas aqui em Santa Catarina são especialmente vulneráveis? Três razões merecem atenção:

Primeiro, por que as aldeias e os acampamentos indígenas aqui em Santa Catarina em sua maioria se situam próximo as áreas urbanas, o que as expõe agudamente ao risco de contágio pelo coronavírus.

Segundo, porque as comunidades Indígenas são contextos propícios a uma rápida disseminação do vírus pela forma de convivência social das famílias indígenas, que são numerosas e contam com muitos idosos e crianças vivendo juntos e em continuo contato.

E, terceiro, porque uma atividade econômica fundamental para a subsistência das comunidades indígenas é a comercialização de artesanato. Como durante a quarentena eles não podem contar com essa renda, é crucial proporcionar segurança alimentar aos povos indígenas nas atuais condições de isolamento.

COLABORE!

Doações financeiras: campanha “Doa-lá” no link https://doacaolegal.com.br/c/frente-indigena-de-prevencao-e-combate-ao-covid-19?fbclid=IwAR0HbZijZgRmbvV7AnbE2GymCeRQ6l2ITHBx7ogmVl_3OWTfkaL–GgNj3M

Doações de cestas básicas ou alimentos não perecíveis, materiais de higiene e limpeza:
Pontos de coleta nos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, nos polos base da SESAI, CRS, CTLS da FUNAI e outros. Os produtos doados serão higienizados pela SESAI antes de seguirem para as comunidades.

Endereços em Santa Catarina:
SESAI
São José – Rua Cap. Pedro Leite, 530 – Barreiros, São José/ SC – (48) 3049-8521
Araquari – (47) 3447-1443
Chapecó – Rua Curitiba, 465 D, Santa Maria. Chapecó/SC. – (49) 3323-3022
Ipuaçu – Rua Pagnocelli, 358, Centro. Ipuaçu/SC. – (49) 3449-0552
FUNAI
São José – Rua Joaquim Vaz, 1322 – Campinas. São José/SC – (48) 3244-0469
Chapecó – Rua Mal. Mascarenhas de Moraes, Parque das Palmeiras. Chapecó/SC. – (49) 3322-0024.
José Boiteux – Rua Primeiro de Maio, 51 – Centro. José Boiteux/SC. – (47) 3352-7352

Professora Dra. Juliana Salles Machado

Seleção Para Bolsista de Extensão 2020

20/02/2020 14:14
Esta aberta inscrição para seleção de bolsista de extensão para o novo projeto de Museu Digital de História Indígena, uma extensão do projeto das mulheres indígenas (Fag.Tar), coordenado pela professora Dra. Juliana Salles Machado. A seleção procura especialmente pessoas que saibam trabalhar com websites, imagens e comunicação.

A vigência da bolsa será de 1o de março a 31 de dezembro de 2020.

As inscrições deverão ser realizadas no período de 27 de fevereiro 2020 a 13 de março de 2020, serão feitas por email.

Para maiores informações baixe o edital no link a seguir:

Chamada Bolsa EXTENSÃO LEIA